domingo, 14 de outubro de 2007

O meu tipo é a Georgia

Eu estudei numa escola técnica em processamento de dados no meu segundo grau. Desta maneira, meu interesse pelo design começou pelo webdesign, campo de atuação que, em 1996 (quando eu estava no segundo ano e comecei a estudar html), ainda era novidade.

Ao desenhar meus primeiros sites (que felizmente já estão fora do ar), eu normalmente escolhia a fonte Arial para todo o texto que não fosse imagem. A escolha era feita pela razão óbvia: a velha crença que, devido à resolução dos monitores, fontes serifadas não funcionavam. As serifas viravam "sujeirinhas" na ponta das letras.

A maioria absoluta dos tipos que vemos na Internet, ainda hoje, foram desenhados para serem impressos em papel. Muita gente desenvolve tipos, mas pouquíssimas pessoas se concentram em desenhar para a tela (apesar do crescente número de pessoas que só lêem na internet).

Felizmente, a Microsoft (sim, ela mesma) percebeu este problema e, em 1993, contratou um tipógrafo experiente para desenhar duas fontes (uma serifada, outra não) especialmente para tela. O designer se chama Matthew Carter, e as fontes se chamam Verdana e Georgia.

A Georgia - publicada e distribuída gratuitamente desde 1996 - é, sem dúvida, o trabalho mais admirável de Matthew Carter. É uma fonte que, ainda que serifada, é confortável para leitura na tela, além se ser muito simpática. A georgia fica bem em corpo de texto (8-12 pontos), mas não perde qualidade em tamanhos maiores.

O que faz da Georgia uma fonte especial? Buenas, é tudo uma questão de altura-x. Ao comparar a Georgia com a Times New Roman, podemos perceber que a primeira é um pouquinho mais "alta" que a Times, no mesmo corpo (tamanho). Desta maneira, todos os espaços em branco da Georgia são maiores, característica que facilita bastante a leitura em tela. Quando impressa, a Georgia pode parecer um pouco desajeitada, mas, em seu habitat natural, o vazio a define melhor.
Georgia (acima) e Times New Roman (abaixo), no mesmo corpo.

Georgia (esquerda) e Times New Roman (direita), no mesmo corpo.

Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção da Georgia foi a beleza do seu itálico. É um itálico verdadeiro, mas que mantém a legibilidade da georgia normal.
Os numerais da Georgia são outro detalhe muito charmoso. São numerais-texto, old-style, cujas descendentes são realmente descendentes, e correm para baixo da linha de base. Em tempos pós-modernos de hipervalorização do vintage, esta característica faz a Georgia pulular por aí.

Apesar de não ter o design minimalista que normalmente associamos com toda a tipografia utilizada na internet, a Georgia vem se popularizando nos últimos anos, o que reflete grandes mudanças na nossa relação com a Internet como fonte primária de informação.

Para ver um excelente uso da Georgia na Internet, espie o blog Speak Up, onde a fonte ajuda a compor um layout primoroso.

Um comentário:

Ana Marafiga disse...

"Georgia, Georgia, the whole day through
Just an old sweet song
Keeps Georgia on my mind
I say Georgia, Georgia
A song for you
Comes as sweet and clear as moonlight through the pines..."

eu simplesmente não consigo falar georgia sem o ray charles cantarolar na minha cabeça.

A georgia realmente não parece deste século. Ela tem uma beleza clássica, difícil de ser alcançada.

=]